Carta de Clarice

Eu quero deixar nessa carta um recado para as futuras gerações da minha família.

Eu, Clarice, vivi um amor. Não um simples amor, um amor gratificante, marcante.

Quando eu estava no auge dos meus 12, 13 anos, eu conheci Alfredo.

Ele enxergava em mim o que ninguém enxergava, o que até eu não enxergava em mim mesma. Ele dizia que eu era linda e que um dia iríamos nos casar.

Eu, sempre falei que tínhamos uma juventude inteira para viver, e que não era hora de pensarmos nisso, mas se ele esperasse, poderia com certeza acontecer algo com a gente.

Eu nunca disse, mas eu o amava. Ele me amava também, mas não deixava isso claro. Até os meus 20 anos, ele foi o amor da minha vida, só que nenhum dos dois admitia.

No começo, eu sabia que era mentira, algo latente dizia ”isso não passa de uma grande mentira. Não é nada mais e nada mais e nada menos do que uma mera calúnia” que grudava em minha mente como a purpurina gruda no cabelo de uma jovem menina.

Mas, cada dia estávamos mais apaixonados. Nos víamos somente nos finais de semana, mas conversávamos diariamente por telefone.

Lembro também que eu tinha varias fotografias de Alfredo, e ele também tinha minhas.

Só que certo dia, ele me esqueceu. Esqueceu meu nome, meu endereço, esqueceu tudo o que havíamos tido no passado.

Eu segui a minha vida e ele seguiu a dele. Quando eu pude encontrar ele novamente, ele estava casado com alguém que nunca havia visto, nem conversado, mas já tinha ouvido falar muito. Ele se casou com Rosânela, mais conhecida como Rosa.

Rosa era de fato, linda. Havia lindos cabelos cor de ouro, olhos azuis, uma bela jovem.

Quando pude ver novamente Alfredo, ele não tinha mudado muito. Continuava moreno, olhos pretos como belas bolas de gude e as sobrancelhas grossas.

Ele disse que trocaria tudo para voltar no passado e ter feito tudo de novo. Eu aceitei as suas desculpas. Eu o amava e ele me amava também.

Mas o tempo estragou tudo.

Ele parou de me amar. Na verdade, quando se ama, quer dizer que o amor consequentemente nunca acabará. Porém, nos afastamos da pior maneira possível.

Hoje, estou no hospital em estado terminal, e Alfredo veio me visitar a poucos dias e disse que a neta dele iria se casar com meu neto. Bom, eu acredito que o amor está no sangue, assim como meu irmão casou com a irmã de Alfredo e minha neta vai casar com o neto do Alfredo, acredito que nas vidas que vem e nas vidas passadas o amor aconteceu. Não importa o que acontece, o amor está no sangue.

Eu quero deixar avisado também, um pequeno grande aviso para as futuras gerações: não abandone alguém. Não esqueça ela, você não sabe o quanto você pode ser importante para a vida dela. E vocês, que foram magoados, perdoem. Não importa o quanto aquela pessoa te fez mal.

Alfredo fez um dia eu acreditar que alguém um dia poderia me amar, e também me fez em um instante desacreditar no amor.

Não sinta medo, fale o que você sinta, faça o que tem que fazer. Você não sabe o dia de amanhã.

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